quarta-feira, 4 de julho de 2012

04/07/2012 08h05 - Atualizado em 04/07/2012 10h47 Felipão no Coritiba: três derrotas e saída estratégica depois de 20 dias Em 1990, quando ainda era pouco conhecido, Scolari assumiu o Coxa, rival agora na final da Copa do Brasil, mas deixou o clube no ônibus do Juventude


O staff de Luiz Felipe Scolari não inclui a informação em seu currículo, mas ele já foi técnico do Coritiba. Treinou o time por três jogos em 1990 e perdeu os três. Depois da terceira derrota consecutiva - para o Juventude-RS - Felipão deixou o clube de maneira pitoresca. Segundo o presidente do Coxa na época, João Jacob Mehl, o então desconhecido treinador pegou carona no ônibus do time gaúcho e partiu para o Rio Grande sem dizer adeus nem pedir demissão. Através da sua assessoria de imprensa, Felipão confirmou a viagem com a delegação do Juventude, mas negou que tenha deixado o clube paranaense sem avisar.
Às vésperas do encontro do atual treinador do Palmeiras para disputar a final da Copa do Brasil contra o Coritiba, a história da saída súbita ainda é pouco conhecida. Aa experiência no clube nem mesmo é citada na lista de times que dirigiu, no site da assessoria de imprensa do treinador. Segundo João Jacob Mehl, Felipão ficou 20 dias trabalhando - e saiu sem pedir nenhum centavo.
- Quando terminou o jogo, ele saiu do banco do Coritiba, atravessou o campo e foi direto onde estava o Juventude. Pensei: "Ele deve ter ido cumprimentar os jogadores e o técnico". Mas, quando entrei no vestiário, o roupeiro me disse: "Não espere por ele. Já foi embora" - relembra o ex-dirigente.
Depois de tantos anos, Mehl avalia que a saída de Felipão não foi descaso, mas a percepção de que não tinha como lidar com um Coritiba afundado em dificuldades. O clube havia caído para a Série B do Brasileiro, tinha jogadores pouco comprometidos, sofria para fechar a folha de pagamento e acumulava resultados negativos.
Pensei "ele deve ter ido cumprimentar os jogadores e o técnico", mas quando entrei no vestiário, o roupeiro me disse "não espere por ele. Já foi embora"
Joãol Jacob Mehl, ex-presidente do Coritiba
A assessoria de imprensa de Felipão diz que ele avisou o Coritiba que iria embora somente depois do jogo, pois viu que o trabalho não daria certo. E garante que devolveu as luvas e que o Coritiba não precisava mais pagar seu salário, ja que eram apenas duas semanas no clube. Sobre a lista de clubes do treinador no site, a assessoria diz que não inclui o Coritiba porque foram apenas três partidas e que Felipão nunca elaborou um currículo.
Felipão chegou indicado por Levir Culpi
A chegada de Felipão foi uma indicação do amigo Levir Culpi. Era um treinador novo - na época com 41 anos - e que havia vencido um Campeonato Gaúcho com o Grêmio em 1987 e dirigido a seleção do Kuwait.
- O Levir já tinha trabalhado com ele e me sugeriu a contratação. Era um técnico iniciante, pouco experiente, mas veio bem recomendado. Era uma aposta nossa para tentar sair daquela situação - conta o presidente da época.
Na entrevista de apresentação (veja o vídeo acima), Felipão se mostrava confiante com a nova missão com o Coritiba e, ao seu estilo direto e que mantém até hoje, falou que a equipe não precisava de reforços para seguir o campeonato.
Mas o cenário que Felipão encontrou era dos mais sombrios. Ele sofria muita resistência do elenco, que era formado por jogadores consagrados como Tostão (ex-Cruzeiro) e outras promessas, como Carlos Alberto e Chicão, que brilharam um ano antes, mas estariam pouco motivados na Série B de 1990.
- Ele pegou um time feito e que não estava animado, principalmente depois do episódio de Juiz de Fora (o Coritiba foi eliminado e rebaixado pela CBF por ter se negado a viajar até Juiz de Fora, em Minas Gerais, para jogar com o Vasco).
O técnico pouco experiente começou a sentir o peso logo no início do seu trabalho. Tentou montar a equipe com o que tinha em mãos para a primeira partida da chave da Série B, contra o Juventude, em Caxias do Sul. O resultado: derrota de 2 a 0.
- Ele desanimou quando viu a situação. Eram jogadores acostumados a receber o bicho molhado (pagamento do prêmio em dinheiro após o jogo) que não recebiam mais e que queriam deixar o clube, serem negociados.
Em 1990, Felipão foi apresentado como técnico do Coritiba (Foto: reprodução RPCTV)Em 1990, Felipão (no centro) foi apresentado como técnico do Coritiba, que era presidido por João Jacob Mehl (à direita): 'Ele pegou um time muito complicado mesmo', relembra o dirigente (Foto: Arquivo/RPCTV)
Presidente garante: malas já estavam dentro do ônibus antes do jogo. Felipão nega
A segunda partida de Felipão à frente do Coritiba foi contra o Joinville, em Santa Catarina, e uma goleada sofrida por 4 a 0. O terceiro jogo, quando o treinador completava 20 dias à frente do time, foi novamente contra o Juventude, no Couto Pereira. Mehl conta ter descoberto anos depois que, vencendo ou perdendo, naquele jogo contra o time gaúcho, Felipão já estava decidido a ir embora sem dar adeus a ninguém.
Felipão nem mesmo pediu
o dinheiro do salário pelos 20 dias trabalhados no Coritiba
- Ele já tinha saído com as suas malas da concentração do Coritiba ainda pela manhã e deixado no ônibus do Juventude. Ele já havia se programado - acusa o ex-presidente.
Felipão nega, através da sua assessoria de imprensa. Ele conta que só buscou as malas após o jogo, no hotel onde morava em Curitiba. Em seguida, encontrou-se com a delegação do Juventude, que estava hospedada em outro hotel na cidade.
Depois da confirmação de que Felipão havia sumido, o dirigente lembra que até pensou em ligar para o treinador e saber o que havia acontecido. No entanto, notou que ele não ia voltar, pois nem mesmo foi pedir o salário de 20 dias de trabalho.
O ex-dirigente do Coritiba conta não guardar nenhum rancor da passagem-relâmpago de Felipão pelo Coritiba. Segundo ele, os dois se encontraram várias vezes nos últimos anos, e o técnico do Palmeiras sempre se mostrou muito afetuoso, mas nenhum dos dois tocou no assunto.
- A forma que ele me cumprimenta, que me trata, mostra muita consideração. Ele virou um amigo fora do futebol e não há nenhuma tristeza quanto ao que passou.
Depois da "saída estratégica", Felipão foi contratado pelo Criciúma e comandou o time catarinense no título da Copa do Brasil em 1991, para depois se transferir novamente para o futebol árabe, onde esteve à frente do Al-Ahli e, depois, pelo Al Qadisiya. Na volta ao Brasil, assumiu o Grêmio, onde deu início à "Era Felipão". Mas essa é outra história.

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