sábado, 4 de agosto de 2012

O 'cara' da Liberta, Emerson paga serviços comunitários e vira 'herói' no Pq. Imperial

Emerson - Corinthians (Foto: Arquivo pessoal)


Um erro do passado, quando tinha 18 anos, tem dado a oportunidade de Emerson Sheik fazer um bem que não tem preço.
Condenado a prestar serviços sociais pela Justiça, por falsidade ideológica, o atacante tem vivido dias de aprendizagem no Parque Imperial, periferia de Barueri. A reportagem do LANCENET! conheceu o lugar que ele visitará, pelo menos, até dezembro para cumprir a pena.
Após fazer sua parte em campo, com dois gols na final contra o Boca que deram a Libertadores ao Timão, o camisa 11 tem cumprido outra missão, desta vez, sem chuteiras. Duas vezes por semana – quando não tem compromissos pelo clube – ele segue até a S.A.F. (Associação de Apoio a Família). Lá, trabalha atrás de parceiros para a ONG (veja mais ao lado). Ele chegou a conhecer outros lugares, mas, pelo estado precário do local, acabou convencido que aquele lugar apertadinho, com salas improvisadas e de duas casas alugadas, era o espaço certo para pagar a sua dívida.
– Quando entrei na comunidade eu falei: "Na boa, é aqui mesmo!". Vi casas de tijolos, criançada na rua... Minha infância foi assim. São lugares que fico à vontade – disse, ao LANCENET!.
E o erro tem “compensado” para a criançada da comunidade. Desde que chegou, bons frutos estão sendo colhidos. Pisos para as oficinas culturais, materiais de construção para completar obras... Até a dispensa do local, que não andava tão cheia, ganhou uma turbinada neste período.
Por outro lado, Sheik também faz bem para uma outra pessoa especial. Sua mãe, dona Carmem, também tira um peso das costas. Ela se sente culpada pelo crime, já que consentiu com a mudança na certidão.
Camisa do Timão autografada ajudou na captação de recursos após ser rifada 
– Minha mãe não tinha dinheiro nem para pegar ônibus. Quanto mais ir no cartório. Mas por eu estar fazendo o bem, acho que ameniza um pouco a culpa dela. Hoje uso isso de maneira bem positiva – disse.
Se para a Fiel o Sheik tem sido grande em campo, no Parque Imperial o pessoal tem mais motivos para se orgulhar do atacante. E como.
O que é a instituição S.A.F.?
Nome:
Associação de Apoio às Famílias.
Fundação e localização:
Começou em 1999. Fica no bairro do Parque Imperial, periferia de Barueri.
Sobre:
Criada pela comunidade, a ONG recebe em duas residências alugadas um total de 80 crianças e 50 adolescentes. Tirando os jovens da rua, os voluntários oferecem oficinas de grafite, pintura, informática e teatro, cidadania, entre outras.
Entenda o caso de falsidade ideológica
Mudança na certidão
Já maior de idade, o atacante, que se chama Marcio Passos de Albuquerque, trocou o “Albuquerque” por “Emerson” no nome, ficando três anos mais novo. Na época ele tinha 18, mas para se transferir para as categorias de base do São Paulo, teve idade reduzida para 15.
Condenação
O veredicto do juiz veio em 2007. Como estava fora do Brasil, Emerson não cumpriu a sentença nos anos seguintes e quase viu seu caso ficar “por isso mesmo”. Quando voltou ao país, em 2010, para atuar pelo Fluminense, teve o caso revisto, mas tentou reverter a pena em multas ou cestas básicas. O atacante chegou alegar falta de tempo para prestar o serviço comunitário. A pena começou a ser cumprida ainda no Rio, na Rocinha, até ele vir morar em SP.
Bate-Bola
Emerson Sheik
Em entrevista exclusiva ao LANCE!
‘Chegar e não ter comida para as crianças é doído’
Com estes meses de trabalho, já tem algum objetivo traçado lá?
Estão precisando muito de ajuda. São duas casas alugadas. É doído ver isso. A ideia é achar um cara de coração muito bom, para poder comprar ali e ficar para eles. Assim todo dinheiro que entrasse, seria investido. O pessoal lá se esforça muito, o horário é curto e é tudo feito no amor.
Lembra sua infância essas visitas que você faz?
É parecido mesmo. Nunca fui com segurança lá na ONG. Quando conheci o projeto me animei mais ainda. Você vê as crianças todas envolvidas com as oficinas. A galera nunca me desrespeitou. Fico tranquilo.
Acha que esse cumprimento de pena serve de exemplo para outros ficarem espertos na base?
Assim que eu cheguei no São Paulo, percebi que eu não precisava disso. Mas já era tarde. Eu sempre reforço que sabia o que tinham feito. Não sou santo. Falo para os pais acompanharem. Não justifica eu ter usado isso. Se a criança tem talento, vai chegar aonde quer.
Lá você acaba aprendendo ou ensinando mais?
Às vezes o pessoal chega para falar comigo como se eu fosse um cara rico de berço. Eu brinco: “Gente, isso aqui é o céu. Passei por coisas piores”. Mas aprendo pelo amor que eles têm pela ONG, pelas crianças... É de se admirar muito. Não tem ajuda, não tem recurso.
O fato de não poder dar do seu dinheiro deixa ainda mais difícil?
Meu trabalho é tentar ajudar. Não tenho de chegar e falar que consegui. Tenho de correr atrás. Felizmente com meu conhecimento no meio, pedi mais para amigos que podem ajudar. Levo eles para conhecer. Não quero o dinheiro por ser meu amigo, quero que venha e participe. Do meu não pode sair nada, não é o certo. Mas estou ajudando, isso é o que mais importa.
O que foi mais legal de ajudar?
Mês passado não tinha comida na cozinha para as crianças. Isso mexe com você. É doído. Não posso tirar do bolso. Corri atrás e consegui um amigo que bancou pelo menos dois meses de alimentação.
O dia a dia de Emerson Sheik na S.A.F.
Sem se esconder
Duas vezes por semana (quando não tem compromissos ou jogos com o Corinthians) o atacante saí de sua casa em Alphaville e, após cerca de 15 minutos de carro, chega até o bairro do Parque Imperial, periferia de Barueri para cumprir a sua pena em trabalho comunitário. Ele faz questão de ir com o próprio carro e ser visto por toda a comunidade. É uma espécie de “tática” para atrair mais as crianças que estão na rua para participar do projeto. Sempre que para o carro em frente à instituição, o camisa 11 do Timão praticamente para o bairro e recebe muito carinho das pessoas.
Atenção para a molecada
Antes de pegar no batente, o jogador precisa "acalmar" as crianças que participa das atividades da ONG. Para isso, passa de sala em sala das oficinas, onde brinca, conversa e se diverte com os pequenos por alguns minutos. O tamanho do local acaba prejudicando muito o trabalho dos voluntários. Como a ONG está em duas residências e são cerca de 130 jovens, fica difícil comportar todo mundo. A garotada é separada em grupos e salas para ter aulas. Com isso, Emerson tem de passar por todas as oficinas para ter contato com as crianças. O trabalho começa a ficar difícil...
Vamos ao que interessa
Com tudo mais tranquilo, Emerson tem de se encaminhar até o escritório da ONG. Lá, ao lado das administradoras e voluntários da instituição, liga para possíveis parceiros e doadores. Ele usa de sua imagem como o trunfo para atrair mais empresas dispostas a contribuir. As funcionárias do local garantem que, desde a chegada do jogador, que aconteceu no início deste ano, as melhorias para a ONG tem melhorado significativamente. Até então, o camisa 11 ainda não precisou ligar aleatoriamente, já que todos os contribuintes vieram de contatos e amizades dele mesmo.
Mirtes Cupertino
Coordenadora e uma das fundadoras da S.A.F., ao LANCE!
"Já tem criança que passou a ser corintiana"
Apesar do motivo que trouxe o Emerson até a gente, sua ajuda tem sido de extrema importância. A criançada daqui adora suas visita. É uma festa!
A gente costuma nem avisar os jovens quando ele vai vir. Se souberem antes, a coisa aqui dentro não anda (risos). Ele avisa um pouco antes de chegar, mas a gente só fala quando ele já está aqui com a gente.
É só ele aparecer que as crianças ficam atrás dele. Tentamos segurar eles nas salas, mas fica bem difícil. Ele vai em cada uma e conversa, vai acalmando a ansiedade deles. Tem criança que, agora que viu o Emerson por aqui, quer entrar na ONG. Aqui tem muitos corintianos, mas tem outros que até viraram. Uns perguntam: “É você mesmo?”. Ele costuma dar bons conselhos, motiva a participar das nossas oficinas.
Conseguimos material de construção para terminar o fundo da ONG. Até as pessoas que vão fazer a obra serão voluntários. Teve doação da Adidas (veja abaixo). As crianças quando viram aquelas chuteiras coloridas ficaram todas doidas. Mas o que foi mais significativo para gente foi a doação de alimentos. É sempre difícil...
Fonte-Lancenet
Juliano.Gouveia

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