Antes de migrar para o futebol de campo e virar Rei na Ilha do
Retiro, local que retorna nesta quarta-feira após 12 anos, Juninho
destacava-se nas quadras. Mesmo ainda muito novo, fez parte de alguns
dos principais times de Recife e teve como mentor, vizinho e companheiro
de equipe ninguém menos do que Manoel Tobias, um dos maiores jogadores
de futsal de todos os tempos.
Juninho conheceu Manoel Tobias no
prédio em que morava. Vizinhos, costumavam bater bola na quadra do
condomínio. Apesar de ser cinco anos mais jovem do que Tobias, o menino
mostrava habilidade.
– Eu era maior, mais velho, assim
como grande parte dos garotos. Mas víamos que o Juninho era bom de bola,
que seria questão de tempo para ele brilhar por aí – lembrou Tobias.
Da
quadra do condomínio para a Votorantim, um dos times mais tradicionais
de futsal da época na região. Juninho, aos 14 anos, foi convidado para
integrar a equipe, jogando ao lado de atletas já conhecidos, como Cacau e
o próprio Tobias.
– Aos 14 anos, já se sobressaía. Então o
convidamos. Mesmo muito jovem, jogava ao aldo de um monte de cobras
criadas – disse Edson Nogueira, que era diretor da Votorantim e
atualmente é presidente da Federação Pernambucana de Futsal.
Pela
Votorantim, Juninho pouco atuou ao lado de Tobias. Novinho, ficava no
banco, enquanto Tobias, já considerado o principal jogador de futsal do
Recife, dava show e virava uma inspiração para o menino.
Aos 17
anos, Juninho optou por ir para o futebol de campo, apesar de muitos
acharem que se daria melhor nas quadras, por não ter um porte físico
avantajado. E quem o viu no futsal garante que ele tinha tudo para ser
um dos melhores do mundo na modalidade. E tal opinião não é de qualquer
um...
– Virou craque no campo, mas na quadra, seria um dos melhores do mundo também. Potencial sempre teve – garantiu Manoel Tobias.
Com a palavra
Edson Nogueira - Presidente da Federação de Futsal de PE e ex-diretor da Votorantim
"No
futsal, Juninho não era um expoente, um artista. Mas era um jogador que
todo mundo queria no time, que decidia, que jogava para ganhar e sabia o
que fazer com a bola. Tinha a certeza de que seria um dos melhores.
Todos
os garotos queriam jogar na Votorantim. Era como se jogasse no
Barcelona, no campo, hoje em dia. Juninho chamou nossa atenção e jogou
sem problemas ao lado de atletas bem mais experientes.
Certa
vez, mesmo mais novo, Juninho ficava mexendo com os mais velhos. Aí um
grupo, em uma excursão, jogou sua roupa fora. Ele chorou, mas eu falava
para ele não mexer com os mais velhos (risos)".
Juninho quando defendia a Votorantim (Rodrigo Ciantar) |
A parceria com o amigo Manoel Tobias teve fim em 1991, quando ele deixou a Votorantim e se transferiu para o Banfort, de Fortaleza. Mas o destino reservou um reencontro anos depois, no próprio Cruz-Maltino.
Em 2000, Juninho Pernambucano, que já vinha se consagrando nos gramados da Colina, buscava mais um título do Campeonato Brasileiro, enquanto Manoel Tobias chegava ao Vasco para fazer parte de um timaço de futsal.
– Foi uma grande coincidência, fui convidado para defender o Vasco e o Juninho já estava por lá. O Vasco tinha um timaço no campo e estava formando um no futsal também – disse Manoel Tobias.
No reencontro, Tobias diz que ficou muito feliz em ver que o menino de Recife não deixou a fama subir à cabeça.
– Teve uma vez em que ficamos na mesma concentração. Juninho nos recebeu de braços abertos, conversou com todo mundo. Depois nos chamou para ir ao quarto dele e ficamos lá. É de uma generosidade muito grande – completou.
Dica do Tobias: ‘Chuta’
Perguntado se chegou a dar alguma orientação a Juninho nos tempos de Recife, Manoel Tobias surpreendeu e disse que teve uma conversa com o Reizinho, mas já nos tempos de Vasco, em 2000. A dica? Chutar mais ao gol.
– Eu 2000, falei para o Juninho que ele sempre teve um ótimo chute, desde criança, e que deveria finalizar mais. Falei: chuta que você se consagra (risos). Se for ver, até então ele só dava assistências, procurava o Edmundo, o Romário. Depois, lembra quem fez o primeiro gol contra o São Caetano, na final do Brasileiro? Depois ele foi fazendo vários gols de fora – contou.
Manoel Tobias virou empresário do ramo de calçados e também tem um projeto, em Fortaleza, para descobrir novos talentos para o futsal. Será que vai surgir um novo Juninho por lá?
– Não sei, mas, no meu time, o Juninho jogaria – finalizou.
Bate-Bola
Manoel Tobias - Em entrevista ao LANCE!
Juninho era bom jogador desde criança?
Desde moleque. Mesmo com quatro ou cinco anos de diferença, já conseguia ver que o Juninho tinha boa desenvoltura.
E foi uma surpresa quando você o viu brilhar nos gramados?
Surpresa não foi, pois sempre soube que ele tinha potencial. Ele acabou indo para o campo, é sempre um caminho difícil também. Só não gostei de ele ter ido para o Sport, pois sou Santa Cruz (risos).
O Juninho disse que, no começo, se inspirava em você. O que acha disso?
Fico até emocionado. Saber que pude ser inspiração algum dia para ele, que se tornou um cara campeão, querido por todos.
Fonte-Lancenet
Juliano.Gouveia
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