A interferência de Celso Barros no futebol do Fluminense gera uma nova queda de braço entre a patrocinadora do clube e a diretoria tricolor. Se foi importante ao investir na volta do meia Darío Conca e na chegada do atacante Walter, destaques do time, o presidente da parceira agora trava a contratação de mais reforços expressivos para a temporada. O motivo: Celso quer o retorno do diretor executivo de futebol Rodrigo Caetano às Laranjeiras e só pretende investir pesado novamente se for atendido. Caetano, que há três meses deixou o Fluminense por não ter o contrato renovado, tem vínculo com o Vasco até o fim de 2014. Nos bastidores do Tricolor, no entanto, a resistência da diretoria ao nome dele é grande.
Trata-se de mais um episódio que expõe os conflitos entre o Tricolor e o patrocinador. Reeleito no comando da Unimed-Rio no fim do mês passado, Celso Barros avisou que reduziria o investimento no clube, mas durante o carnaval comprometeu-se a reforçar o time para a Copa do Brasil e o Brasileirão. Contrariado, Barros, com um comportamento digno de Don Corleone, de “O Poderoso Chefão”, decidiu ficar de mãos fechadas. Pelo menos por ora.
O Fluminense apresentou uma lista de possíveis reforços a Celso, entre eles o volante Elias, do Sporting, de Portugal, e um zagueiro sul-americano, mas os nomes não saíram do papel. A última discussão efetiva e que acabou concluída foi a da contratação de Walter. O impasse para contratar expõe a diretoria, que aos olhos dos torcedores está inerte. Em dificuldades financeiras, o clube não se vê em condições de caminhar com as próprias pernas. Mas ao mesmo tempo não pretende ceder e mantém a posição clara de que não quer Caetano de volta. Internamente, é consenso que o executivo e o técnico Vanderlei Luxemburgo, ambos escolhas de Celso, tiveram parcela de culpa na péssima campanha do time no Brasileirão passado.
Celso Barros fala abertamente com o vice de futebol tricolor, Ricardo Tenório, sobre os planos de ter Caetano de volta. Desde a demissão de Felipe Ximenes, há dois meses, Tenório acumula a função de diretor de futebol e divide com Renato Gaúcho as ações para reforçar o grupo. Pelo menos por enquanto, Barros e o presidente do Fluminense, Peter Siemsen, ainda não debateram a questão entre eles.
Rodrigo Caetano tem contrato até o fim do ano com o Vasco, mas o processo eleitoral no Cruz-Maltino poderia abreviar a passagem dele. A eleição ainda não tem data marcada, mas provavelmente ocorrerá no segundo semestre. O executivo assinou por um ano justamente por conta do pleito. Seu contrato, aliás, não tem multa rescisória. A possibilidade de Rodrigo deixar o Vasco por decisão dele é remota. O espaço conquistado por ele no clube, a autonomia e o modelo de gestão na Colina o agradam muito.
Até aqui, quatro candidatos declararam participação na eleição: Eurico Miranda, Nelson Rocha, Roberto Monteiro e Tadeu Correia, este último o candidato da situação, mas que deixou de ser aliado de Roberto Dinamite, o atual presidente. Como Roberto decidiu não se candidatar, a situação optou por lançar Tadeu. O número de concorrentes ainda pode aumentar.
Barros volta a fazer uma imposição dois meses depois de ter decidido demitir Felipe Ximenes. Uma demissão que se deu por dois motivos principais: a vontade do presidente da patrocinadora do clube e o conflito entre os perfis do vice de futebol Ricardo Tenório e do técnico Renato Gaúcho com o de Ximenes, que não tinha autoridade dentro do modelo de gestão e fora contratado com a incumbência de tocar o planejamento para a Segunda Divisão. Segundo o GloboEsporte.com apurou, Celso chegou até a avisar ao presidente Peter Siemsen que não contrataria mais reforços caso Ximenes ficasse. Foi atendido prontamente.
Ximenes ficou fora de boa parte das conversas para a definição de Renato Gaúcho como novo técnico, o que foi definido oficialmente logo após Ricardo Tenório assumir a vice-presidência de futebol, durante o Natal passado. Neste caso, aliás, também houve forte interferência de Celso Barros. Favorito do presidente da patrocinadora, Renato não tinha a aprovação de Peter, que tentava um treinador de outro perfil. Ney Franco e Enderson Moreira eram os preferidos.
A demora do clube para anunciar Renato Gaúcho chegou a irritar Celso. Em entrevista em 23 de dezembro, ele deixou clara a preferência pelo treinador, mas disse que não interferiria na escolha tricolor pelo novo comandante.
- Tenho um nome de preferência, mas a escolha vai ser do presidente. Ele disse que daria a decisão, ia anunciar. Já conversamos, nos falou que era o Renato, e agora não sei por que essa dúvida toda – disse à Rádio Globo.
Renato, que Peter não queria, fora anunciado no dia seguinte, mas só depois que o clube escolheu Ricardo Tenório para ser vice de futebol. Tenório foi a cartada de defesa do Fluminense na relação com a patrocinadora. A indisposição pública no caso da definição do treinador motivou a escolha, e o vice foi anunciado como a peça responsável para contratar o técnico em sintonia com a Unimed. O desejo de Celso Barros novamente foi atendido.
Antes dos casos Ximenes e Renato Gaúcho, o peso das decisões de Celso Barros também prevaleceu em outra ocasião recente. Definida a demissão de Abel Braga, no fim de julho de 2013, a escolha do novo treinador novamente ficou entre um nome preferido da patrocinadora e um do presidente Peter. Vanderlei Luxemburgo, nome de Celso, foi contratado. No caso Walter não foi diferente. Tanto que as conversas iniciais com o atacante e seus agentes não passaram pelo clube, que desconhecia o interesse e tratava o caso como cavada em um primeiro momento. Foi o patrocinador que tratou de introduzir o assunto. Mais tarde, Renato Gaúcho, já contratado, tratou de conversar com Walter no jogo beneficente de Zico no Maracanã, em 28 de dezembro. Estava encaminhada a negociação. Ximenes, novamente, ficara escanteado.
Amigo pessoal de Celso Barros, Renato nega que a relação entre clube e parceiro atrapalhe os negócios. O discurso do treinador é o mesmo de Ricardo Tenório: o de que o Tricolor está atento ao mercado e trabalha em silêncio.
- A gente tem conversado, trocado ideias. Em breve vocês (jornalistas) vão poder ter notícias sobre isso (contratações). Sempre falei que estamos de olho, não estamos cegos, nós estamos correndo atrás. Existe dificuldade financeira e não adianta falar em nomes porque atrapalha. A diretoria não está parada – disse o treinador.
Renato, no entanto, deixa claro que espera por reforços em breve.
- De preferência antes do Brasileiro - afirmou.
O Fluminense estreia no Brasileirão em 19 de abril, contra o Figueirense. Até 1º de abril, os clubes brasileiros podem contratar atletas que atuem fora do país. A janela só abre depois entre 20 de junho e 20 de julho. E inscrições na Copa do Brasil podem ser feitas até 26 de agosto. No Brasileirão, a data limite é 3 de outubro. Mas há um detalhe importante: nas Laranjeiras, quase sempre vigora o calendário de Celso Barros.
Fonte:Globoesporte