Terça-feira, dia 4 de setembro deste ano. O técnico Jorginho comandava um trabalho de bolas paradas no Fazendão para tentar surpreender o Atlético-MG, então líder do Brasileirão e adversário do Bahia pela 22ª rodada da competição. Gabriel era o jogador responsável por cobrar as faltas para que os zagueiros tentassem a conclusão a gol. Após alguns chutes, a dor. Em meio ao treino, o
jogador reclamou de um desconforto na coxa direita e deixou o gramado de imediato. Era a primeira de várias lesões musculares que iriam desfalcar o Bahia na reta final da Série A.
No limite do desgaste físico, o Tricolor perdeu quatro jogadores por estiramento em apenas um mês. Além de Gabriel, os atacantes Souza, Jones Carioca e Elias também precisaram dos serviços médicos do clube por conta da lesão. Um problema que tem origem em vários fatores diferentes. Entre eles, a cansativa sequência de jogos cada vez mais intensos, como aponta o médico do Bahia, Marcos Lopes.
- Isso não ocorre apenas no Bahia. Muitos clubes sofrem por conta das lesões neste período do ano. Os jogos exigem muito dos atletas e o calendário não permite uma recuperação adequada. A musculatura precisa de tempo para se recuperar. O ideal seria pelo menos 48 horas de descanso após uma partida, o que não é possível atualmente. Enquanto ohuver jogos quarta e domingo, sempre vai haver lesões musculares, que não são tão graves, mas são bastante comuns - disse o médico tricolor.
- O Brasil possui dimensões continentais e os jogadores sempre precisam viajar para atuar fora de casa. Imagine uma viagem de Salvador para Porto Alegre, além das horas de voo, também tem o período de aeroporto, atrasos. Tudo isso pode influenciar na ocorrência de uma lesão, já que o atleta fica muito tempo parado - assegurou.Segundo Marcos Lopes, a rotina de viagens dos jogadores também favorece a ocorrência de lesões musculares. No avião, os atletas passam várias horas sem exercitar a musculatura, o que cria condições para que os temidos estiramentos que tiraram o sono do técinco Jorginho nos últimos 30 dias ocorram com mais frequência.
O final de temporada também aparece como um dos responsáveis pelos recorrentes casos de lesões musculares no Bahia. O desgaste natural expõe a musculatura dos jogadores à lesões, o que também ocorre no início do ano, quando os atletas retornam das férias.
- Isso é natural nesse período. Tentamos evitar a ocorrência de lesões cortando os treinos em dois turnos, cuidando da nutrição dos atletas, mas é um problema que sempre ocorre pela exigência natural do esporte - destacou Marcos Lopes.
Problema não ocorre apenas no Bahia
A ocorrência de lesões musculares não é exclusiva do Bahia. Recentemente, o
Vasco perdeu o atacante Tenório por três semanas por conta de um estiramento muscular. Principal referência do São Paulo, Luís Fabiano também desfalcou o Tricolor paulista nas últimas rodadas por conta do problema muscular. No Avaí, três atletas sentiram um desconforto na coxa e viraram dúvida para o duelo contra o ASA.
Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), o médico Jomar Souza lembra que até mesmo na Europa o problema é recorrente. Nem mesmo jogadores como Zidane, que contava com a mega-estrutura do Real Madrid, esteve livre das lesões musculares.
- As lesões são comuns no esporte, principalmente quando a temporada está perto do fim. Na Copa de 2002, o Zidane não começou bem a Copa porque já acumulava o desgaste da sequência de jogos, se machucou e não conseguiu render o que podia no mundial. É uma coisa que os médicos tem que saber lidar. Uma hora ou outra o treinaor não poderá contar com determinado atleta por conta de uma lesão. É natural - disse o presidente da SBMEE, que trabalhou no Bahia entre 1993 e 1994 e depois passou pelo Vitória no período entre 1996 e 2002.
A condição individual de cada atleta também é um ponto que chama a atenção dos médicos nos casos de lesão muscular.
- O fator genético deve ser levado em conta. Cada jogador reage de uma maneira diferente aos jogos. Ninguém desenvolve essa pré-disposição, é uma coisa de cada indivíduo e que sequer tem coo controlar - afirmou.
De acordo com Jomar Souza, a solução passa pelo planejamento do clube, que precisa saber formar um elenco para suprir as necessidades provocadas por questões médicas.
- Os times tem que formar um bom grupo de jogadores. O elenco tem que ter pelo menos 22 atletas em condição de atuar como titular para manter o nível da equipe mesmo quando ela perde alguém por lesão.
Tratamento diferenciado
Ainda na briga contra o rebaixamento, o Bahia encontrou uma solução para acelerar o tratamento dos jogadores machucados e contar com reforços para a disputa de pontos preciosos no Brasileirão. Peças fundamentais na equipe comandada pelo técnico Jorginho, Gabriel e Souza foram submetidos a sessões diárias de oxigenoterapia hiperbárica, que consiste em submeter o atleta a uma pressão maior que a atmosférica, em uma câmara, onde ele respira oxigênio a 100%.
Com Gabriel, a estratégia deu certo. Quando o meia se machucou, a previsão dos médicos era de que ele ficasse longe dos gramados por pelo menos três semanas. Em 14 dias, no entanto, o jogador voltou a ficar à disposição de Jorginho.
Já recuperado, Gabriel comentou a lesão e a série de problemas médicos do Bahia. Apesar da pouca idade, o jovem meia de 22 anos mostrou experiência e deu a receita para evitar problemas musculares no futuro.
- O descanso é bom, faz parte do treinamento. No final de temporada tem que ter esse cuidado para nos jogos poder render mais e não ter mais problemas com lesão.
Fonte:Globo Esporte