É inevitável não mencionar a fortuna de Suleyman Kerimov quando o assunto é o Anzhi Makhachkala. Erguido através de negócios no ramo da aviação, construção civil, petróleo e gás e até potássio, o império de R$ 14 bilhões fez do dono do clube o 118º homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes. Mas, no futebol, o retorno de todo o investimento passa longe de sua conta bancária. Enquanto as suspeitas de lavagem de dinheiro não são confirmadas, o magnata russo desfruta de notória popularidade no Daguestão, onde nasceu e foi criado. Famoso por abraçar causas sociais, ele ajudou a transformar um dos lugares mais perigosos da Europa - ao menos neste início de temporada - no centro de futebol do país.
A afirmação, é bom ressaltar, não deve ser levada ao pé da letra. Líder do Campeonato Russo e de seu grupo na Liga Europa, o Anzhi praticamente vive sua rotina na capital Moscou. É lá onde treina, no Centro de Treinamento do Saturn, time que decretou falência há duas temporadas (a estrutura conta com dois campos oficiais, um sintético, academia e hotel); é lá onde moram as estrelas do time, como o artilheiro camaronês Samuel Eto'o; é lá também onde a equipe atua na competição continental (o Lokomotiv cedeu o estádio por conta de normas da Uefa). Apenas os jogos pela liga local e Copa da Rússia são disputados em Makhachkala, numa espécie de bate-volta (os voos têm duração de duas horas e meia).
Estádio para 80 mil: planos ambiciosos
Quando a fase é boa, no entanto, a torcida comparece em qualquer lugar. No Campeonato Russo a equipe tem a sétima melhor média, com 14.217 pessoas por jogo (o Spartak Moscou lidera com 26.280). Números que só impressionam quando é levada em conta a capacidade do Estádio Dinamo: apenas 15,2 mil espectadores. Na estreia pela Liga Europa, contra o Young Boys, da Suíça, 14 mil foram até a capital para ver
Eto'o e os brasileiros
Roberto Carlos (assistente), Jucilei, João Carlos e Ewerton. A expectativa é de público ainda maior quando Liverpool e Udinese visitarem o líder do Russo.
No que depender dos planos de Kerimov, porém, o Anzhi terá a sua própria casa num futuro próximo - bem antes da Copa do Mundo de 2018, que terá a Rússia como sede. O projeto de cerca de R$ 2 bilhões inclui a construção de um novo estádio, com capacidade para 80 mil pessoas, e um Centro de Treinamento completo, de primeira linha. Ambos seriam alocados fora do centro de Makhachkala, a princípio por questões de segurança.
- Fico imaginando quanto zeros tem nessa fortuna, é impossível. Mas ao mesmo tempo é uma motivação: quanto mais ganharmos, mais recursos ele vai nos proporcionar. Ele investiu para ver o time dar resultado, e agora isso está acontecendo. É um cara fantástico, que está no vestiário, sempre humilde, janta conosco... Isso é o mais importante - disse João Carlos.
Com passagem pelo Vasco no Brasil, o zagueiro se mostrou empolgado com o futuro do Anzhi, mas tentou colocar na balança os prós e contras da vida que leva entre Moscou e Makhachkala.
- O empecilho é trazer o time todo para cá (Moscou). Estrutura tem, o problema é com o Daguestão, pois ficam com o receio de tirar o Anzhi totalmente daquela cidade, que ama o futebol. Moscou não é perto, são mais de duas horas de voo. A alegria deles é ver os famosos aos sábados e domingos, vão aos treinos, tiram fotos. Se tirar isso do povo será um poubo complicado, por isso essa indecisão sobre o que é melhor para o torcedor. A atmosfera é gostosa demais quando se joga lá, já aqui fica um clima estranho, é praticamente fora de casa - avaliou João Carlos.
- Espero que em um ou dois anos tudo fique pronto. O Anzhi já está sendo conhecido no mundo inteiro, imagine com um estádio moderno, mais contratações, títulos e participações na Liga dos Campeões. Antes todo mundo olhava e respeitava. Agora já é bem diferente. É impressionante como sai muita notícia do Anzhi. Em comparação com dois, três anos atrás é brincadeira - opinou Jucilei, que na infância já foi servente de pedreiro e ganhava R$ 15 por cada dia de trabalho.
Um Eto'o decisivo em campo
Muito do respeito que o Anzhi adquiriu nos últimos tempos passa por dois grandes nomes. O primeiro é o de Roberto Carlos, que anunciou aposentadoria no último mês de agosto. Ele encabeçou o projeto e atualmente, além de auxiliar, participa de ações do clube. Já dentro de campo a responsabilidade é de Samuel Eto'o, autor de 14 gols em 18 partidas na temporada - foram nove somente nos últimos dez compromissos com a camisa do Anzhi. No Russo o camaronês soma sete gols (nenhum de pênalti). Os artilheiros são o brasileiro Danilo, do Alania, e Yura Movsisyan, do Krasnodar, ambos com nove gols cada.
- Quando ele quer é um dos melhores do mundo. Sabia que quando pegasse o jeito do Russo, conhecesse bem a nossa equipe, ele começaria a desencantar. Acompanhamos no treino e sabemos que é um cara diferenciado. Ele só precisa de uma brecha para decidir com passes ou gols. Está naquela fase do Inter de Milão que todos lembramos. Espero que continue nos ajudando a conquistar vagas importantes e campeonatos - afirmou João Carlos.
Enquanto os sonhos ainda não se consolidaram como realidade, o Anzhi tem como objetivo se manter no topo. O próximo desafio é diante do Spartak Moscou, neste sábado, em casa, pela 12ª rodada do Campeonato Russo. A meta é não deixar que os rivais se aproximem. Um deles é o atual campeão Zenit, agora com Hulk no comando de ataque.
- O Zenit está passando por esse pequeno processo com as novas chegadas. O Hulk e o Witsel precisam conhecer o campeonato, o grupo, o estilo russo. Já estão adaptados e fazendo boas partidas. É um time chato, que vai chegar. Cabe ao Anzhi não dar essa brecha - encerrou.
Fonte:Globo Esporte