domingo, 7 de outubro de 2012

Thiago Silva: 'Não estamos na Seleção de sacanagem'


Pressão. A palavra mais citada atualmente para definir o momento da Seleção e do técnico Mano Menezes. Homem de confiança do treinador, Thiago Silva pede calma. Capitão e valorizado com a transferência do Milan para o Paris Saint-Germain por R$ 110 milhões, o zagueiro acabou ficando fora das partidas contra África do Sul, em São Paulo, e China, no Recife, por causa de uma lesão muscular sofrida na final olímpica e que só foi curada após os amistosos. Da França, viu o Brasil vencer sendo vaiado em casa e teve que explicar aos novos companheiros o motivo de tantas críticas. Mais: a cobrança em cima de Neymar tem preocupado o atleta, que teme pelo fim da alegria do camisa 11 do Santos.
- Falei que a torcida brasileira era mal acostumada e por isso vaiava o grupo atual. Um craque nasce a cada dez anos ou mais. Não se nasce um Pelé, um Romário ou um Ronaldo todo ano. Tivemos todos esses craques e, agora, nós temos o Neymar. E é muito triste quando se vaia o nosso melhor jogador. Ele faz de tudo para dar alegria ao povo, é um cara alegre e temos que passar isso para ele também. Ele pode perder a alegria de jogar futebol.
Logo aos 15 minutos do primeiro tempo da final das Olimpíadas de Londres, contra o México, em Wembley, Thiago sentiu um problema muscular. Mesmo assim, o defensor seguiu em campo e concluiu os 90 minutos do duelo que culminou com a derrota da seleção brasileira por 2 a 1 e a perda da medalha de ouro. Quatro dias depois, mesmo com dores na coxa direita, ele voltou a defender a seleção brasileira em amistoso contra a Suécia, em Estocolmo, e agravou o problema. Mas por que se arriscar em um jogo que não valia três pontos? O “Monstro” tem a resposta na ponta da língua: pressão sobre a Seleção, ameaças de demissão a Mano e criticas de todos os lados.
Mosaico Thiago Silva (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)
Por conta da situação complicada, a estreia do zagueiro pelo PSG só ocorreu no dia 18 de setembro, pela Liga dos Campeões, um mês após o duelo contra os suecos. No confronto diante do Dínamo de Kiev, no Parc des Princes, triunfo por 4 a 1, com um gol do "Monstro" ainda no primeiro tempo.
- Com 15 minutos de jogo eu senti uma lesão e ainda joguei uma partida contra a Suécia, logo após as Olimpíadas. Vi que o pessoal estava precisando de mim e me propus a fazer esse sacrifício. Logo após a derrota para o México, a pressão em cima do grupo era grande. Não poderia falar que não queria jogar... Foi tudo pensando no grupo, não deixaria os meus companheiros na mão e muito menos o treinador - disse.
- Fico triste porque temos feito tudo com prazer, com a maior disposição. Não estamos ali de sacanagem ou por dinheiro. Estamos ali porque amamos a nossa Seleção, o nosso país - desabafou o zagueiro.Apesar de não ter participado dos amistosos contra a África do Sul e China, Thiago Silva acompanhou o desempenho da Seleção. No primeiro duelo, vitória por 1 a 0 e vaias dos torcedores no Morumbi. Na outra partida, triunfo por 8 a 0 sobre os asiáticos. Mas foi o apupo dos paulistanos que incomodou o capitão do time canarinho.
Durante a entrevista, Thiago Silva também falou do retorno de Kaká, com quem atuou no Milan por vários anos, à seleção brasileira e da difícil adaptação à capital francesa. Acostumado a Milão, o jogador ainda tem sofrido em Paris, principalmente com o idioma. Confira abaixo os principais trechos do bate-papo com defensor brasileiro.
Não estamos ali (na Seleção) de sacanagem ou por dinheiro"
Thiago Silva
GLOBOESPORTE.COM: Como você vê o retorno de Kaká à Seleção?
THIAGO SILVA
: É um jogador diferenciado, fez história no futebol. Não foi o melhor do mundo à toa, já mostrou toda a sua qualidade dentro de campo. Será mais um jogador para dividir a responsabilidade. A pressão é grande, ele é experiente e vai nos ajudar muito. Não tem jogado muito pelo Real, mas se foi convocado é porque a comissão técnica confia no trabalho dele. Com essa convocação espero que ele tenha mais oportunidades no Real. O último jogo dele foi contra a Holanda, na Copa de 2010, onde fomos derrotados. É um cara do bem, e espero que nesse retorno ele nos ajude na caminhada rumo ao Mundial.
Como viu as vaias dos torcedores paulistanos para a Seleção durante o amistoso contra a África do Sul, em setembro?
Fico triste porque temos feito tudo com prazer, com a maior disposição. Não estamos ali de sacanagem ou por dinheiro. Estamos ali porque amamos a nossa Seleção, o nosso país. Quando jogamos na Europa, independentemente se somos brasileiros ou não, ganhamos o apoio de todas as partes. Ficamos chateados com isso, mas só vai mudar com vitórias. Temos que acreditar em nosso potencial, escutar o que falam de bom. O que falam de ruim deve entrar por um ouvido e sair pelo outro. Teremos uma prévia de tudo na Copa das Confederações e precisamos saber lidar com tudo isso.
Os atletas de outros países que atuam com você na França acham estranho a seleção brasileira ser vaiada dentro de casa?É o que fico mais chateado. As pessoas que não têm nada a ver com a gente, que não tem nada a ver com o Brasil, gostam de nós. Quando jogamos no país deles, tudo muda. Na cidade do Ibrahimovic, em Malmo, e na Polônia, seremos bem recebidos. Quando achamos que seremos bem recebidos no Brasil, somos criticados, vaiados, chamados de pipoqueiros. Não gostamos, mas temos que saber lidar com isso. Jogadores de outras nacionalidades acham tudo isso muito estranho.
É preciso mais paciência por conta da renovação da Seleção?A nossa seleção tem qualidade apesar de ter vários jogadores jovens. A pressão é grande porque a reformulação é grande. Mudamos quase um time inteiro da Copa do Mundo para cá. Temos que ter paciência. Falei aos meus companheiros de clube (PSG) que a torcida brasileira era mal acostumada e por isso vaiava o grupo atual. Um craque nasce a cada dez anos ou mais. Não se nasce um Pelé, um Romário ou um Ronaldo todo ano. Tivemos todos esses craques e, agora, nós temos o Neymar. E é muito triste quando se vaia o nosso melhor jogador. Ele faz de tudo para dar alegria ao povo, é um cara alegre e temos que passar isso para ele também. Ele pode perder a alegria de jogar futebol.
thiago silva PSG treino (Foto: Agência AP)
Durante a execução do hino nacional brasileiro no confronto a China, em Pernambuco, os jogadores ficaram abraçados o tempo todo. O que achou daquela atitude do grupo naquele momento?Foi um negócio legal, interessante, até pelo que eles passaram. O que passamos, me incluo nisso, foi um momento triste de jogar em nosso país e ser vaiado. Foi bacana mudar de cidade e ser bem recebido, ver todos cantando o hino... O grupo deve ter conversado de ficar mais junto, mais próximo, de estar mais focado. Nem sempre a vitória por 1 a 0 está boa para o nosso povo. Querem espetáculo, toque de letra, bicicleta, mas no futebol de hoje não é tão fácil. Hoje em dia, se você piscar é derrotado, surpreendido. Temos que acreditar mais em nós, escutar menos os que não acreditam em nosso trabalho.
Na final das Olimpíadas, você sentiu um problema muscular e, mesmo assim, seguiu em campo. Por que tomou tal atitude?Com 15 minutos de jogo eu senti uma lesão e ainda joguei uma partida contra a Suécia, logo após as Olimpíadas. Vi que o pessoal estava precisando de mim e me propus a fazer esse sacrifício. Logo após a derrota para o México, a pressão em cima do grupo era grande. Não poderia falar que não queria jogar... Foi tudo pensando no grupo, não deixaria os meus companheiros na mão e muito menos o treinador, que sempre me deixou à vontade para expressar a minha opinião. Eu me sinto um líder dessa Seleção em função do respaldo que o Mano tem me dado. Não poderia deixá-lo na mão. Sabemos que a pressão sobre o treinador era grande naquele momento e fiz de tudo para ajudar
Saindo da Seleção para o PSG, você marcou um gol logo em sua estreia pelo clube. Foi melhor do que esperava?Não esperava que fosse dessa forma, muito menos fazendo gol. É difícil para um zagueiro fazer gols. e logo na estreia eu fiz um. Foi melhor do que eu imaginava.
Como está a sua adaptação em Paris?Vou ser bem sincero. É complicado. Não estou bem ambientando na cidade ainda. Não achei casa. Essa semana é que eu vi uma que eu gostei, minha esposa gostou. Estamos estudando uma proposta para fazer ao proprietário para ver se essa questão se resolver o mais rápido possível. É uma cidade bem bonita, mas é bem difícil a vida em Paris.
E o idioma?Não temos tradutor até porque não precisamos muito. Quase todo o elenco fala italiano. Muitos vieram da Itália. Com os outros, a comunicação, às vezes, é por mímica. Estou fazendo aula para aprender um pouco mais, para pedir uma comida. Brinquei com o pessoal essa semana porque estou comendo sempre a mesma coisa no hotel. Quando eu saio, não passo fome, mas não como o que eu quero (risos). Está sendo bem interessante. Espero que daqui para frente seja ainda melhor.
Seu contrato vale até 2016. Depois, volta ao Flu?
- Se falar que eu não penso, vou estar dando uma de mentiroso. Não sei se vai ser logo após o fim de meu contrato aqui. Se vou renovar ou não, se vou para outro lugar ou não. Já falei algumas coisas com o meu empresário, disse que o pensamento é encerrar a carreira onde tudo começou para o futebol. Depois da doença, o Fluminense foi o clube que me deu respaldo para eu jogar (NR: Thiago teve tuberculose quando defendeu o Dínamo de Moscou, antes de ser contratado pelo Tricolor, em 2006).
Thiago Silva com a camisa da seleção (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
Fonte:Globo Esporte

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