Quando Renan Bressan marcou o terceiro gol do BATE Borisov sobre o Bayern de Munique, há três semanas, garantindo a vitória por 3 a 1 da equipe bielorrussa pela Liga dos Campeões, o triunfo não foi apenas no campo. O resultado mostrou que, mesmo numa época em que os milhões de euros criam superequipes de uma temporada para outra, ainda é possível ser competitivo apostando em jogadores locais, estrutura e estabilidade financeira, numa filosofia parecida com a utilizada pelo Barcelona - mas com recursos muito mais escassos.
Líder do Grupo F do principal torneio de clubes da Europa, com 100% de aproveitamento em dois jogos, o BATE Borisov põe à prova seu conto de fadas nesta terça-feira, contra o Valencia, em casa – no outro jogo da rodada, o Lille recebe o Bayern de Munique. Enfrentando o outro peso-pesado da chave, o time bielorrusso tentará confirmar uma evolução que vem desde 1996, quando o clube ressurgiu, após 15 anos inativo, pelas mãos de Anatoli Kapski, dono de uma fábrica de peças para tratores em Borisov.
A partir de então, o BATE conquistou oito títulos nacionais – o primeiro veio em 1999, e o clube venceu as últimas seis edições, desbancando o tradicional Dinamo Minsk - e disputa a fase de grupos da Liga dos Campeões pelo segundo ano consecutivo.
Ao contrário dos rivais das vizinhas Ucrânia e Rússia, que contam com donos bilionários, o clube tem um orçamento para 2012/2013 de apenas €6 milhões (R$15,8 milhões), sem contar o dinheiro da Liga dos Campeões, já que a participação não era garantida no início da temporada – como comparação, o Bayern de Munique, última vítima, gastou €40 milhões (R$ 105 milhões) apenas na contratação do volante Javi Martínez.
Planejamento exemplar e foco na base
Em vez de torrar o dinheiro de suas participações em torneios europeus com grandes nomes, o BATE adotou outra estratégia. Além de dar espaço a jovens promessas - 10 atletas da base compõem o plantel profissional -, o clube estabeleceu uma eficiente rede de olheiros, capaz de encontrar na pequena Bielorrússia, cuja população é de cerca de 9 milhões de pessoas, jogadores talentosos o suficiente para integrarem o principal time do país. Como resultado, nove atletas da equipe apareceram na última convocação da seleção local.
O brasileiro Renan Bressan, que se naturalizou bielorrusso no ano passado, é um exemplo. Ele chegou ao país em 2009, se destacou pelo Gomel e logo foi contratado pelos atuais campeões. Hoje, crê que a agremiação pode evoluir mais.
- Acredito que daqui a uns dois anos o BATE pode chegar ao nível de outros grandes clubes do Leste Europeu. O clube cada vez mais melhora a estrutura, cresce todo ano. Hoje, tem dois campos oficiais, um hotel simples, mas confortável, academia nova...Acho difícil algum time da Bielorrúsia nos superar – afirmou o meia ao GLOBOESPORTE.COM.
Entretanto, o brasileiro advertiu que, se o BATE quiser voos maiores na Europa, será necessário investir mais no plantel. Atualmente, o principal jogador é o meia-atacante Aliaksandr Hleb, revelado pelo clube, mas que já teve passagens por Barcelona e Arsenal.
- O clube não é tão rico ainda, então investe em jogadores nacionais. Tem dado resultado, mas, se tiver ambição maior em torneios europeus, terá de contratar jogadores mais experientes, com mais nome.
Cartola é estrela no clube
Ao que parece, o presidente do BATE, Anatoli Kapski, discorda de Bressan. No atual elenco, além do brasileiro, há apenas três estrangeiros: o atacante Maycon, outro representante canarinho, o meia armênio Zaven Badoyan e o zagueiro sérvio Marko Simic. O mandatário, aliás, é tido como o grande responsável pela evolução do clube.
- Kapski é a figura central na boa organização do clube, que é a chave para o sucesso do BATE. Eles têm os melhores jogadores bielorrussos no plantel. Até mesmo os reservas seriam estrelas nos outros times – diz o jornalista Timofey Zinoviev, do site “Football.by”.
Bressan concorda com Zinoviev e revela a relação próxima de Kapski com os atletas.
- Ele cobra muito do time, mas dá toda a estrutura possível e não atrasa os salários, paga todos os prêmios em dia. Antes, ele frequentava treinos, dava opinião na escalação do time, mas, hoje, dificilmente aparece. Acompanha o time em todos os jogos e, depois da partida, sempre entra no vestiário para conversar.
Novo estádio nos planos
O BATE, porém, ainda tem um longo caminho a percorrer para continuar crescendo na Europa. Um dos problemas imediatos diz respeito a seu estádio, cuja capacidade é de apenas 5,4 mil pessoas. Por conta disso, o time manda suas partidas pela Liga dos Campeões em Minsk. Entretanto, já começou a construção de uma nova arena em Borisov, que deve ficar pronta em 2013.
Além disso, Kapski continua investindo na estrutura do clube. A ideia é erguer um novo centro de treinamento, além de um espaço apenas para as divisões de base, em Smolevichi, cidade entre Minsk e Borisov.
Influência espanhola
A filosofia do BATE tem bastante influência de clubes espanhóis. Enquanto a valorização da base pode lembrar o Barcelona, os bielorrussos também estabeleceram boas relações com o Villarreal, após enfrentarem o Submarino Amarelo em 2007 - o atual técnico, Vitor Goncharenko, chegou a fazer intercâmbio com Manuel Pellegrini quando o chileno estava no time ibérico.
Além disso, o clube contratou diversos profissionais espanhóis. Hoje, dois deles fazem parte da comissão técnica do BATE: o preparador físico José Pastor Verchilli e o fisioterapeuta Daniel Sáez Irrure.
Resta saber, agora, até onde o BATE pode replicar o sucesso dos espanhóis na Europa. Por ora, uma classificação para as oitavas de final da Liga dos Campeões seria para os bielorrussos o mesmo que a conquista do torneio pelo Barcelona.
Fonte:Globo Esporte
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