Liguei para um amigo ontem e ele perguntou na lata: “Bala, você vai torcer contra o Brasil, não vai?”. Meio hesitante, não entendendo o porquê da pergunta, balancei a cabeça, mas ele emendou: “Você é o um dos maiores críticos da Confederação, e se vier uma medalha tudo de ruim que está aí tende a continuar”, disse-me com alguma sabedoria. Batemos um longo papo, sobre basquete e principalmente sobre jornalismo (ai minha conta de celular…), e concluí dizendo acho isso tudo uma bobagem.
Primeiro porque jornalista não torce, e acho este o principal ponto de todos. Desde que passei a acompanhar basquete como blogueiro, minha paixão pelo jogo só aumentou (acho que vocês devem imaginar que consumo tudo sobre a modalidade de uma maneira até doentia), mas passei a não ter, digamos, contato emocional algum com qualquer time que seja. Clube no Brasil, seleção nacional, franquia da NBA, nada (nesses anos todos, eu só comemorei uma vitória, confesso a vocês). Se isso não bastasse, eu cito o exemplo do futebol para mostrar que resultados esportivos quase nunca mudam os rumos estruturais do esporte (talvez o que o Guga fez com a CBT seja mais exceção do que regra).
Entrou ano, saiu ano, e o comando do esporte mais popular do Brasil não mudou por causa dos resultados obtidos no campo. Muito jornalista afirmava que, vencendo, o regime de Ricardo Teixeira tendia a continuar, mas eu nunca enxerguei assim. Teixeira saiu quando as denúncias o sufocaram, e não porque o futebol praticado pelo time nacional piorou terrivelmente nos últimos cinco, dez anos. A mesma analogia é possível fazer com o basquete.
Sou muito cético (já deu pra perceber, né) em relação a qualquer melhora profunda no basquete brasileiro (ficaremos nesta draga técnica e estrutural por um bom tempo, não tenho dúvida disso), e vocês que acompanham este espaço sabem bem o que sinto por esta desastrosa gestão do basquete brasileiro. Carlos Nunes é um péssimo presidente da Confederação, mas no final das contas Rubén Magnano e seus atletas têm muito pouco a ver com o estado em que a modalidade encontra-se aqui no país (na verdade, os atletas, como agentes políticos de qualquer mudança, poderiam ser mais críticos, atuantes, menos passivos, mas deixemos esta discussão para outro momento).
Em 2007, um então amigo viu a semifinal do Pré-Olímpico de Las Vegas na minha casa. Assistiu ao show de Luis Scola e no final parecia feliz com a não classificação da equipe de Lula Ferreira aos Jogos de Pequim. No final, entendi a mensagem que ele quis passar. Enquanto Grego estivesse no comando, ele torceria contra. Quem sou eu pra ficar julgando as pessoas, mas não consigo ser assim.
Jornalista não torce (quem torce, distorce), jornalista não usa a primeira pessoa do plural (os jogadores ganharam/perderam, e não ganhamos/perdemos) e sinceramente não creio que alguma coisa mude no basquete deste país por causa de um resultado olímpico (seja por causa de um começo de mudança por causa de derrota ou por começo de ciclo virtuoso de planejamento e gestão em caso de triunfo).
Nesta quarta-feira, serei mais um espectador. Sem torcer contra ou a favor, eu só espero que seja um grande jogo de basquete. Nada mais do que isso.
Fonte: Uol
Erly Souza
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